terça-feira, 8 de setembro de 2009

A metáfora da borboleta e a psicopedagogia.


"Lembro-me de uma manhã em que eu havia descoberto um casulo na casca de uma árvore, no momento em que a borboleta rompia o invólucro e se preparava para sair. Esperei bastante tempo, mas estava demorando muito, e eu estava com pressa. Irritado, curvei-me e comecei a esquentar o casulo com meu hálito. Eu o esquentava e o milagre começou a acontecer diante de mim, a um ritmo mais rápido que o natural. O invólucro se abriu, a borboleta saiu se arrastando e nunca hei de esquecer o horror que senti então: suas asas ainda não estavam abertas e com todo o seu corpinho que tremia, ela se esforçava para desdobrá-las. Curvado por cima dela, eu a ajudava com o calor do meu hálito. Em vão. Era necessário um acidente natural e o desenrolar das asas devia ser feito lentamente ao sol - agora era tarde demais. Meu sopro obrigara a borboleta a se mostrar toda amarrotada, antes do tempo. Ela se agitou desesperada, alguns segundos depois morreu na palma da minha mão. Aquele pequeno cadáver é, eu acho, o peso maior que tenho na consciência. Pois, hoje entendo bem isso, é um pecado mortal forçar as leis da natureza. Temos que não nos apressar, não ficar impacientes, seguir com confiança o ritmo do Eterno."

Para refletir
Esta pequena história nos faz pensar num dos aspectos do trabalho psicopedagógico, ou seja, sobre o respeito ao aluno e às necessidades de aprendizagem de cada criança. A lagarta passa por um longo processo de transformação para virar borboleta e poder voar. A lagarta se alimenta muito para crescer. Este "alimenta-se para crescer" do ponto de vista da psicopedagogia são as experiências que a criança vai adquirindo em contato com as pessoas, os objetos e o mundo em geral. Há que se selecionar os "alimentos estímulos" mais apropriados para este crescimento. Depois, ao formar o casulo, a lagarta entra em repouso. Este tempo é necessário para que haja uma assimilação e uma acomodação das experiências, para que o sujeito as possa tomar como suas, fazendo e refazendo, como se construísse o seu casulo. Mas, há o tempo de sair do casulo e poder voar. Tempo de mostrar, de expressar, de comunicar. As formas de mostrar o que se sabe são variadas, às vezes são desenhos, ou são novas brincadeiras, ou, até novas perguntas. Só que cada lagarta tem seu tempo de casulo e seu tempo de ser borboleta. Não há como forçar e nem como acelerar os tempos, sem o risco de perdermos o vôo da borboleta!


Extraído de www.4shared.com

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Tudo que eu devia saber na vida aprendi no Jardim de Infância

"JA FAZ MUITOS ANOS QUE, a cada primavera, imponho-me a
tarefa de fazer uma declaração pessoal de fé – de compor um
Credo. Quando era mais jovem, meu Credo ocupava páginas e
páginas, de tanto que me preocupava em cobrir todas as áreas, sem
deixar nada pendente. Era como se tivesse de produzir uma
espécie de sentença da Suprema Corte; como se, com palavras,
pudesse resolver todos os conflitos sobre o sentido da existência.
Com o tempo, o Credo foi encolhendo. Às vezes acaba soando
cínico, às vezes cômico, às vezes sereno, mas continuo trabalhando
nele. Recentemente resolvi que tinha de fazê-lo caber inteiro em
uma única página e que só podia usar palavras simples, mesmo
sabendo que corria o risco de parecer idealista e ingênuo.
A idéia de procurar ser breve, verdadeira inspiração, ocorreu-me
num posto de gasolina. Estava abastecendo meu velhíssimo
automóvel com a gasolina mais pura, de alta octanagem.
Combustível de luxo. O carro protestou: começou a ratear nos
cruzamentos, vazava combustível pelas esquinas. Eu logo entendi
o que estava acontecendo. De vez em quando me sinto assim,
como o tanque de meu carro. Excesso de informação, excesso de
complexidade, e eu é que começo a ratear pelas esquinas – um
ratear existencial pelos cruzamentos da vida, justamente nos locais
e horas em que tenho de tomar as mais difíceis decisões, e
inevitavelmente descubro que ou sei demais, ou sei de menos.
Quanto mais penso sobre a vida, mais me convenço de que ela não
é um piquenique.

Foi quando descobri que já sei praticamente tudo o que é
necessário saber para viver com dignidade – o quê, afinal, não é
assim tão complicado. Já sei quais são as coisas que realmente
contam. E de fato sei há muito tempo, porque tenho vivido essas
coisas. Sim, claro que viver já são “outros quinhentos”. Eis o meu
Credo:
Tudo que eu preciso mesmo saber sobre como viver, o que fazer, e
como ser, aprendi no jardim-de-infância. A sabedoria não estava
no topo da montanha mais alta, no último ano de um curso
superior, mas no tanque de areia do pátio da escolinha maternal.
Vejam o que aprendi:
Dividir tudo com os companheiros.
Jogar conforme as regras do jogo.
Não bater em ninguém.
Guardar os brinquedos onde os encontrava.
Arrumar a “bagunça” que eu mesmo fazia.
Não tocar no que não era meu.
Pedir desculpas, se machucava alguém.
Lavar as mãos antes de comer.
Apertar a descarga da privada.
Biscoito quente e leite frio fazem bem à saúde.
Fazer de tudo um pouco – estudar, pensar e desenhar, pintar,
cantar e dançar, brincar e trabalhar, de tudo um pouco, todos
os dias.
Tirar uma soneca todas as tardes.
Ao sair pelo mundo, cuidado com o trânsito, ficar sempre de
mãos dadas com o companheiro e sempre “de olho” na
professora.
Pense na sementinha de feijão, plantada no copo de plástico: as
raízes vão para baixo e para dentro, e a planta cresce para cima –
ninguém sabe como ou por quê, mas a verdade é que nós também
somos assim.
Peixes dourados, porquinhos-da-índia, esquilos, hamsters e até a
semente no copinho plástico – tudo isso morre. Nós também. E
lembre-se ainda dos livros de histórias infantis e da primeira
palavra que você aprendeu, a mais importante de todas: Olhe!
Tudo que você precisa mesmo saber está por aí, em algum lugar. A
regra de ouro, o amor e os princípios de higiene. Ecologia e
política, igualdade e vida saudável.
Escolha um desses itens e o elabore em termos sofisticados, em
linguagem de adulto; depois aplique-o à vida de sua família, ao seu
trabalho, à forma de governo de seu país, ao seu mundo, e verá
que a verdade que ele contém mantém-se clara e firme. Pense o
quanto o mundo seria melhor se todos nós – o mundo inteiro –
fizéssemos um lanche de biscoitos com leite às três da tarde e
depois nos deitássemos, sem a menor preocupação, cada um no
seu colchãozinho, para uma soneca. Ou se todos os governos
adotassem, como política básica, a idéia de recolocar as coisas nos
lugares onde estavam quando foram retiradas; arrumar a
“bagunça” que tivessem feito.
E é verdade, não importa quantos anos você tenha: ao sair pelo
mundo, vá de mãos dadas, e fique sempre “de olho” no
companheiro..."
Robert Fulgum